Céu-Pedrada: Alexisonfire em SP e Astrologia
Sobre o dia que retomei a vida em shows após a crise-pandêmica, e o céu deste momento memorável e sublime. (english version below)
Escrevi horas antes no Twitter: “chama o padre porque hoje vou expurgar demônios”. E assim foi.
Após exatos 24 meses entre total lockdown, muito medo, restrições, cansaço mental e emocional, a volta aos shows de música finalmente aconteceu para mim. Foi, de longe, a minha maior falta nestes últimos dois anos, desde 24/03/2020 quando eu e o Arthur nos isolamos. Música ao vivo. A dinâmica ritualística para uma apresentação artística. O culto que um espetáculo pode se tornar.
E no dia 24/03/2022 eu fui de encontro a uma das mais absurdas e sublimes cerimônias que já presenciei. Alexisonfire on stage.
Classificam a banda como post-hardcore, caso você que lê não conheça. Pense numa sonoridade basicamente rock’n’roll pesado, e vocais melódicos intercalados com gritaria irretocável. Ou, escute. O que interessa de verdade é que 1) essa é uma das bandas mais importantes da minha vida; na adolescência ajudou a formar de gostos a caráter, sem exageros 2) marca a retomada a uma existência do lado de fora, pra mim e tanta gente que lá esteve 3) marca a retomada de shows internacionais no Brasil.
Sob tanto simbolismo dos acontecimentos, foi inevitável pensar no simbolismo astrológico da mais memorável noite que vivi desde o início deste inferno pandêmico.
Pontualmente às nove da noite, a banda subiu ao palco de uma absolutamente abarrotada casa noturna em São Paulo onde cabem pouco mais de 3 mil pessoas. Neste instante o ambiente foi tomado por saudação ensurdecedora e o céu estava assim:
O Sol em Áries, a Lua em Capricórnio. Os ponteiros de luz dos céus em signos marciais, anunciando que pedrada pouca é bobagem. Lua na Cabra está numa posição que chamamos exílio. Longe, longe de casa, desconfortável, enrijece os sentimentos porque há uma falta. Sua missão é encontrar meios de preencher as lacunas. Nesta noite, foram preenchidas com barulho casca grossa, feito o bode que sobe montanhas com seus cascos sem firulas nem desculpas. E ela estava conjunta à estrela Sinistra, feiticeira e libertina.
O Sol, o próprio rei, exalta-se em Áries. A realeza, claro, é a banda. Que subiu no palco da Casa 5, reluzente no primor da disposição em oferecer seu melhor raio, doando vida, recuperando o vigor que não mais corria pelas nossas veias.
É bonito pensar que este Sol no céu faz oposição aos Sóis em Libra de nascimento de Dallas Green e George Pettit, dois dos três vocalistas. Em evidência máxima, e talvez até meio testados neste comprometimento que é o de serem, naquela ocasião, os canais de doação de vida — significador máximo do Sol. A tensão diluída pela Lua, seus súditos comandados por Vossa Majestade. Sob fortes fortíssimas emoções, embalamo-nos sob aquela liderança de forma visceral.
Dizemos que, respectivamente, Sol e Lua estavam sob as ordens de Marte e Saturno — é que são estes os planetas que regem Áries e Capricórnio. Ambos os astros estão em Aquário, no meio deles a Vênus em estado de sítio. Vênus sitiada, é como chamamos. Entre a cruz e a espada, era onde se encontrava o planeta do amor & das artes. Ela buscou a beleza, encontrou uma comunidade inteira unida pelo extravasamento. Um brado comunitário de liberdade e reconexão com a coletividade aquariana movida por um bem maior, a própria música — um dos muitos significadores de Vênus.
E bem, ei, vocês da banda, eu vi vocês dando um sorrisinho e balançando a cabeça na hora do Ei Bolsonaro Vai Tomar no Cu. Aprenderam direitinho, porque puxaram no Lollapalooza dias depois, hahahaha.
Mercúrio é o planeta que pensa e fala; estava em Peixes e neste signo fica imaginativo e mudo (já tentou falar debaixo d’água?). Porém, esteve conjunto a Júpiter, quem elevou as vozes da plateia, muitas vezes nem dando para escutar as que saíam dos microfones. Quem eleva os vocais, feito o monumental George. Sem falhas nem resquício de rouquidão, garganta intacta por mais de uma hora cantando e esbravejando. Netuno na tripla conjunção em Peixes, faz assim também representar o canto quase celestial & imponente de Dallas Green, messias de toda uma geração envolvida por esses caminhos musicais.
Toda a trupe pisciana já estava na Casa 5 do mapa celeste, aquela que abriga o lazer, a própria música, os prazeres pujantes que levam ao mais alto nível de contentamento, ao gozo. A atmosfera era, de verdade, transcendental. Olhava ao redor, percebia que tinha gente fora do próprio corpo, em uma presença inteira. Entrega total. Que delírio, que delícia, um êxtase tresvariado.
Às 21h, quando o primeiro acorde foi tocado e a primeira voz na multidão berrou, Ascendia Escorpião com toda sua intensidade, profundidade e rendição de um público absorto no quinteto orquestrado. Em Escorpião concebemos luz na escuridão — saímos das cavernas internas.
Pessoalmente, este Ascendente do show encontrava em exatidão meu Mercúrio-natal, algo que interpreto como a ascensão de pensamentos que me acompanharam tempo demais e, ali, encontraram uma válvula de escape nas palavras cantadas depois de tanto silêncio. A vontade da minha estrela Algol ascendente era de entrar em uma daquelas rodas punks, sem exagero nenhum. Não o fiz por razões estruturais — 1,58, uns 50 quilos e nenhuma disposição de ser esbofeteada, apenas esbofetear, conta que não fecha numa roda punk. Debatia-me contra os 5 milímetros de espaço que havia ao meu redor; um misto de suor e lágrimas emocionadas; muitos instantes de flutuação.
Estávamos carentes. Socialmente carentes, musicalmente carentes. Era de sentir pelos poros o pulso do que ficou reprimido por 2 arrastados e angustiantes anos. As tristezas, as raivas, a saudade todas expelidas com uma fúria apaixonada que a tríade Sol-Lua-Ascendente expressa melhor que ninguém: Áries, Capricórnio, Escorpião.
Não há nada melhor do que sentir a música te revelar viva. É um alívio e uma bênção, tal qual Júpiter e Netuno colados em Peixes anunciavam no estandarte. E é uma honra que isso tenha acontecido em um show do Alexisonfire. O céu foi apurado e revelou uma noite perfeita para nossos destinos no momento.
Obrigada, Alexisonfire, por essa noite inesquecível, mas não somente. ❤
[este texto é mais para um registro-pessoal de como toda simbologia é, mesmo, perfeita. e para eu nunca me esquecer]
*english version — maybe, not a perefect one*
Heavy-Sky: Alexisonfire in Sao Paulo and Astrology
About the day I resumed life in concerts after the pandemic crisis, and the sky of this memorable and sublime moment.
I wrote hours earlier on Twitter: “Call the priest cuz today I’m going to purge demons”. And so it was.
After exactly 24 months between total lockdown, a lot of fear, restrictions, mental and emotional tiredeness, the return to music concerts finally happened for me. It was, by far, my biggest lack in the last two years, since 03/24/2020 when Arthur and I isolated ourselves. Live music. The ritualistic dynamics for an artistic presentation. The cult that a show can become.
And on the 24/03/2022 I went to one of the most absurd and sublime ceremonies I have ever witnessed. Alexisonfire on stage.
Some classify the band as post-hardcore, in case you who read it don’t know. Think basically heavy rock’n’roll sound, and melodic vocals interspersed with impeccable screaming. Or, just listen. What really matters is that 1) this is one of the most important bands in my life; in adolescence it helped to form tastes to character 2) it marks the resumption of an existence on the outside, for me and so many people who were there 3) it marks the resumption of international concerts in Brazil.
Under so much symbolism of events, it was inevitable to think about the astrological symbolism of the most memorable night I’ve lived since the beginning of this pandemic hell.
Pointendly, at nine in the evening, Alexisonfire took the stage of an absolutely crowded nightclub in São Paulo where just over 3,000 people can fit. At that moment, the atmosphere was filled with a deafening greeting and the sky was like this:
Sun in Aries, Moon in Capricorn. The light pointers of the heavens in martial signs, announcing that ‘little stone’ is silly. Moon in the Goat is in a position we rank as exile. Far, far from home, uncomfortable, stiffens feelings ‘cause there is a lack of something. Moon’s mission, ins this case, is to find ways to fill in the gaps. Tonight, they were filled with noise, thick shells, like the goat that climbs mountains on its hooves without frills or excuses. And she was joined with the Sinister star, sorceress and libertine.
The Sun, the king himself, is exalted in Aries. The royalty, of course, is Alexis, who took the stage of Fifth House at the chart, shining in the prime of willingness to offer its best ray, giving life, recovering the vigor that no longer flowed through our veins.
It’s nice to observe that this Sun in the sky opposes the Libra Suns born to Dallas Green and George Pettit, two of the three vocalists. In maximum evidence, and perhaps even half tested in this commitment that is to be, on that occasion, the channels of life giving — maximum signifier of the Sun. The tension diluted by the Moon, their subjects commanded by Your Majesty. Under very strong emotions, we rocked under that leadership in the most visceral way.
We say that, respectively, the Sun and Moon were under the orders of Mars and Saturn — these are the planets that rule Aries and Capricorn, respectively. Both [Mars and Saturn] are in Aquarius, and in the midst of them Venus in a state of besieged. Venus besieged, we call it. Between a rock and a hard place, there was the planet of love & the arts. She sought beauty, found an entire community united by extravasation. A community cry of freedom and reconnection with the Aquarian collectivity moved by a greater good: music itself — one of the many signifiers of Venus.
And well, hey, you guys from the band, I saw you smiling each other and shaking your head at the time of Hey Bolsonaro Vai Tomar no Cu. They learned right, because they who pulled on Lollapalooza days later, hahahaha.
Mercury is the planet that thinks and speaks; he was in Pisces and in this sign he is imaginative and mute (have you ever tried talking underwater?). However, he was joined by Jupiter, who raised the audience’s voices, often not even being able to hear those coming out of the microphones. Who raises the vocals, like the monumental George. Without flaws or hoarseness, throat intact for more than an hour singing and raging. Neptune, in the triple conjunction in Pisces, thus also represents the almost celestial & imposing singing of Dallas Green, messiah of an entire generation involved in these musical paths. Or, even the kindness of Wade. The moves and sympathy of Chris, the brutal drums of Jordan, a sound coming from the depths.
The entire Pisces troupe was already in the 5th house of the celestial map, the shelter of leisure, music itself, the powerful pleasures that lead to the highest level of contentment, to enjoyment. The atmosphere was truly transcendental. I looked around, realized that there were people outside their own body, in an entire presence. Full delivery. What a delirium, a delight, a wild ecstasy.
At 9pm, when the first chord was played and the first voice in the crowd roared, we had Scorpio Rising with all its intensity, depth and surrender of an audience absorbed in the orchestrated quintet. In Scorpio we conceive light in darkness — we came out of the inner caves.
Personally, this Rising of the show found my native Mercury exactly, something that I interpret as the ascension of thoughts that followed me too long and, there, found an escape in the words sung after so much silence. My rising star Algol wanted to get into one of those mosh pits. I didn’t do it for structural reasons — 1.58, too slim, and no willingness to be slapped, just slapped, what doesn’t close in a mosh pit. I struggled with the 5 millimeters of space around me; a mixture of sweat and emotional tears; many moments of fluctuation.
We were needy. Socially needy, musically needy. The pulse of what had been repressed for two dragged and agonizing years could be felt through the pores. The sadness, the anger, the longing all expelled with a passionate fury that the Sun-Moon-Rising triad expresses better than anyone else: Aries, Capricorn, Scorpio.
There’s nothing better than feeling the music reveal you alive. It is a relief and a blessing, just as Jupiter and Neptune glued to Pisces announced on the banner. And it’s an honor that this happened at an Alexisonfire live. The sky was accurated and disclosed a perfect night for our destinations at the moment.
Thank you, Alexisonfire, Dallas George Wade Chris and Jordan, for this unforgettable night, but not only. ❤
[this text is more for a personal record of how all can be brilliant symbology; indeed, perfect. A simples tribute for some guys which I’m thankful. And for myself, to never forget.]
